Copa do Mundo cara – por Milton Bigucci

Copa do Mundo cara
por Milton Bigucci – 09 de setembro de 2010

Até parece que eu não gosto de futebol, mas quem me conhece sabe o quanto adoro esse esporte.

Tenho combatido os gastos excessivos exigidos, principalmente pela FIFA, para a realização de uma Copa do Mundo.

Aqui no Brasil não está sendo diferente. Temos um campeonato brasileiro, um dos maiores do mundo, e os campeonatos regionais sendo disputados em nossos estádios e ao que me parece sem grandes gastos, mesmo porque o futebol é deficitário e não se permite ao luxo de investir grandes somas em estádios.

Na África do Sul também não foi diferente das demais sedes anteriores e não será da brasileira. Lindos estádios foram construídos e agora o que fazer com os “elefantes brancos”? No Livro “Desenvolvimento e Sonhos: O Legado Urbano do Mundial de 2010” consta que são necessários eventos que rendam cerca de R$ 80 a 130 milhões por ano nos 10 estádios construídos, somente para manutenção, e só com o futebol não se paga. O rúgbi, esporte de massa daquele país, já tem seus estádios. Passada a euforia da Copa, o sonho acabou.

Milhões de desempregados, pobreza latente, AIDS, e grande oposição aos fortes gastos públicos e estádios ociosos. Segundo algumas ONGs locais, os gastos com o Mundial dariam para construir 3 milhões de moradias para os favelados, em um país onde as desigualdades sociais continuam latentes (vice campeão do mundo em desigualdade social). Agora a África ficou com as dívidas; sendo que a FIFA arrecadou líquido US$ 3,2 bilhões sem pagar qualquer imposto para a África, com a obrigação de gastar apenas US$ 70 milhões para fazer campos de futebol para os carentes.

Agora vejam onde o Brasil se meteu. Deveremos ter 12 estádios sedes para a Copa do Mundo de 2014, com gastos acima de R$ 400 milhões em cada estádio (com exceção apenas do Mato Grosso que deverá gastar “apenas” R$ 342 milhões). Parece piada se falar na grandiosidade desses números em um país com a infraestutura carente (25% dos brasileiros não têm acesso ao saneamento básico), com déficit habitacional de mais de 6 milhões de habitações. Em nove Estados, serão gastos R$ 4,8 bilhões em estádios, ou seja, oito vezes mais do que se gasta anualmente para produzir habitações nesses mesmos Estados.

Não me convencem os argumentos dos políticos de que a Copa é uma vitrine para os investimentos federais (que deveriam haver mesmo sem a Copa). Ora, esses investimentos devem ser feitos, porque as favelas aí estão e os esgotos a céu aberto, causadores de doenças, também. Há Estados sedes, cujas equipes locais mal chegam a disputar a segunda ou terceira divisão de profissionais, com rendas pequenas e que estão fadados a serem “elefantes brancos”, ociosos e com riscos enormes de retorno.

A Copa pode ser feita, porém com custo benefício justo.

Primeiro vamos cuidar das necessidades básicas do povo, depois vamos dar o “circo”. Só assim se cria uma juventude sadia.

 

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